Indústria brasileira cresce, em 2024, o dobro da média mundial
Os dados são da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido)
A indústria brasileira de transformação teve um crescimento de 4,6% no terceiro trimestre de 2024, revertendo a queda de 1,0% registrada no mesmo período de 2023, conforme dados da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido). Esse desempenho superou a média mundial de 2,3%, com desaceleração nos países desenvolvidos e na China.
O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) aponta que o crescimento se deve ao ciclo de juros baixos e melhores condições de crédito em 2024, além da demanda interna aquecida, impulsionada por programas sociais, redução da inflação e melhora no mercado de trabalho. No entanto, especialistas alertam que a recuperação pode perder força com o novo ciclo de alta de juros anunciado pelo Banco Central.
Em dezembro, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a Selic para 12,25% ao ano e indicou novos aumentos para janeiro e março de 2025, podendo chegar a 14,25%, nível próximo ao pico da crise econômica de 2015-2016. Para o economista do Iedi, Rafael Cagnin, o aperto monetário pode prejudicar a expansão industrial.
“Não acredito que vá reverter o crescimento, mas com certeza prejudicará. Pela primeira vez em uma década, a indústria cresce de forma vigorosa sem retração no ano anterior”, afirmou Cagnin à Folha de S.Paulo. Ele também adverte que a pressão por custos mais altos e a concorrência externa podem diminuir o diferencial de crescimento da indústria brasileira em relação ao resto do mundo.
Além disso, a desaceleração da indústria na China e na Europa, somada à política protecionista de Donald Trump, representa desafios adicionais. O aumento de tarifas sobre produtos chineses pode intensificar a concorrência no mercado interno brasileiro e em outros destinos de exportação.
A saída dos Estados Unidos de compromissos climáticos internacionais, como o Acordo de Paris, também pode prejudicar o Brasil ao reduzir os esforços globais pela transição energética, segundo Cagnin.
Apesar desses riscos, há fatores que podem amenizar os impactos econômicos no curto prazo. Entre eles, destacam-se programas do BNDES que incentivam inovação, digitalização e sustentabilidade, além do programa de depreciação superacelerada, que estimula investimentos.
A desvalorização do real frente ao dólar também favorece a produção nacional, embora ainda existam desafios com a importação de insumos e bens de consumo.
“O câmbio precisa de previsibilidade para beneficiar efetivamente a indústria. Alterações bruscas em momentos de incerteza criam mais volatilidade do que ganhos para o setor produtivo”, enfatizou Cagnin.
O governo e o setor industrial, portanto, enfrentam o desafio de equilibrar a política monetária, a competitividade externa e o avanço sustentável para manter o crescimento em 2025.
Fonte: Agência Brasil